segunda-feira, 12 de maio de 2014


CONVERSA DE MALUCO
(Isabel Cristina Pereira Lopes)


___ Alô!
___ Alô? Quem fala?
___ Ora, quem fala? Sou eu.
___ Eu quem?
___ Como eu quem? Ta brincando! Você se esqueceu da minha voz, rapaz?
Meio sem jeito.
___ Claro que não! Não mesmo!
___ Ah. Bom. É que você me pediu para te ligar.
___ Pedi? Surpreso.
___ Pediu.
___ Verdade!!! Pedi mesmo. Mas a propósito pedi pra quê?
A voz do mais velho mostra impaciência.
___ Como pra que? Não sabe?
___ Ah sei sim. Como poderia não saber. É que são tantos os compromissos. Você é da relojoaria?
___ Não.
___ Da loja de calçados! Isso! Da loja de calçados.

A voz do mais velho:
___ Bingo, rapaz!
___ Ah, é mesmo! Foi pra confirmarmos aquele negócio.
___ Isso. Tudo de pé?
___ Tudo! São cem sapatilhas femininas.

Voz impaciente:
___ Não. Não trabalhamos com artigos femininos.  Não acredito, estou vendo que você não sabe com quem está falando!

A Voz mais jovem se apressa em justificar:
____ Não é isso, é que você está meio rouco.
___ Sim, sim é verdade.
___ Nem que eu quisesse poderia esquecer uma pessoa tão querida.
___ Ah, vejo que está se recordando.
___ Nunca estive esquecido.
___ Do assunto sim, não da voz.
___ Ah, sim.
___ Então diga logo meu nome.
___ Ora começa com P.
___ Isso boa garoto!

___ Paulão, Ô cara quer me deixar nervoso?
___ Paulão? Fala logo que não reconhece a minha voz ingrato!
___ Ta louco, não confesso não. Isso não é verdade. É como eu disse sua voz, ta rouca.
___ Vai lá...
___ Com P.... Pedroca, Pedroca é você bicho?

___ Não! Seu filho de uma mãe...
___ Como eu não acertei logo! É você Pitoca?

___ Pitoca, é a boa mãe que te pariu. Trata de lembrar seu degenerado! Não conhece a voz do próprio...
___ Filhão! Oh filhão o papai ta ficando velho, mas jamais esqueceria sua voz.
A voz do outro lado da linha se exaspera.
___ Filho duma mãe. Diz que esqueceu e pronto.
___ Mas eu não te esqueci. Estou meio confuso converso com muita gente durante o dia, afinal aqui é uma empresa.
___ Ah, então lembrou que somos uma empresa, esquecidinho...
___ Esquecidinho não!
___ Então fala logo, quem sou eu?

___ Ai... o meu pai do...

___ Isso!!! Muito bem. Pensei que você não reconheceria a voz do seu próprio pai.

Voz sem jeito. Desconcertado.

___ Credo pai, não se pode nem brincar. Era só pra esquentar a relação!
BONECA DE CORDA
 (Isabel Cristina Pereira Lopes)


Eu sei que o leitor diria que medo de boneca é um tanto estranho, visto que as bonecas são o protótipo dos bebês, ainda mais a uns anos atrás, lá pela década de 70.É que naquele tempo as bonecas tinham como inspiração os bebês brancos de cabelos loiros e olhos azuis; todavia essa boneca a que me refiro era diferente. Inspirada não se sabe onde, muito menos sei em quem, a verdade é que era feita de corda, com enormes bobs na cabeça, olhos arregalados e preta. Digo essa última palavra imbuída de uma consciência crítica que foi desenvolvida ao longo desses anos, o fato de ser preta talvez fosse o maior mal da tal criatura, afinal a cor preta sempre fora associada ao mal, assim como o branco, loiro, aos anjos bons. A pobre e inocente boneca vivia pendurada numa parede, não era brinquedo, era enfeite. Como seria possível enfeitar com aquilo?Essa era a questão da época. Nunca saia dali, exceto em ocasiões onde era usada justamente para assustar a menina.
A menina não tinha consciência de questões como racismo ou coisa do tipo, mas dentro dela havia o medo imposto pelo que na sua ignorância era feio e mal.
Uma das vizinhas, ainda criança, consciente do medo, vinha e jogava a boneca sobre a menina medrosa. A medrosa chorava, esperneava e reclamava, às vezes ouvia a tia da dona da boneca dizer:
___ Pra que assustar ela? Não faça isso! E ralhava mais, mas nem uma menina nem a outra mudava de atitude. Se uma chorava por medo, a outra sorria do choro e assim o tempo passou... As meninas cresceram, as bonecas ganharam novas formas e cores. A consciência crítica de ambas as meninas foi desenvolvida. Muitos anos após a ocorrência desse fato, a menina chorona, já mulher deparou-se com a tal boneca, olhou-a e pensou que ela era até uma boneca bonita, nos padrões de um objeto artesanal, e refletiu sobre a importância de ensinar as crianças a perceber a beleza dos diferentes e a compreender a ditadura dos estereótipos, para que elas não carreguem dentro de si o sentimento de inadequação.

Viva as bonecas de todas as cores, de todos os traços, de todos os jeitos. Viva a consciência crescente de que o feio e o bonito depende dos olhos de quem vê. 

Contação de Histórias

Dizem que saber contar histórias é um dom
outros dizem que é arte...
Todo mundo tem boas histórias pra contar
histórias inventadas
histórias aprendidas
histórias vividas.
Talvez contar histórias seja um dom
para quem ouve, pode parecer uma arte...
para quem gosta de contar histórias
é, simplesmente, uma necessidade.




Imagens da contação de histórias na E. M. Doutor Otávio, em Pirapora
2014

Pirulito Cabeção
(Isabel Cristina Pereira Lopes)

Entre tantas as fases da história do portador de necessidades especiais no mundo, eu posso dizer que já vivi algumas. Quando criança lá pela década de 70 havia nas redondezas um rapaz que sofria de hidrocefalia e como aquele era o tempo do desconhecimento dessas mazelas, o pobre rapaz era tido como “doido”, vale dizer que tudo que fugia ao considerado normal era classificado como doido. Daí o medo das crianças da rua. Corriam, entretanto não deixavam de importuná-lo. Para provocar o moço as crianças gritavam:
____ Pirulito Cabeção! E é claro davam no pé, porque se ficassem era possível que apanhassem.
Eu e minha irmã não fomos criadas pra perturbar ninguém, mas morríamos de medo do tal rapaz.
Um belo dia eu entrei na venda para comprar doces. Nesse dia em especial eu queria um pirulito, como era conhecido na época o leitor pode imaginar... Isso mesmo, pirulito cabeção, por ser  redondo e grande assim como a cabeça do rapaz que sofria de hidrocefalia. Entrei com as moedinhas presas entre os dedos. Naquele tempo criança não pedia aos pais e avós dez reais, ganhava moedinhas e eu tinha algumas para a compra do precioso doce. Aproximei do balcão da venda, estiquei a cabeça para visualizar as guloseimas e pedi:
____ Seu Américo me dá um Pirulito Cabeção... Parei imediatamente, com a frase ainda suspensa no ar. Na boca o gosto amargo do medo e na cabeça o gosto docinho do pirulito.
Atrás de mim estava o verdadeiro... Ou falso sei lá “Pirulito Cabeção”. Não sei se tive vontade de explicar que não falava dele e sim do doce, mas acho que isso só pioraria as coisas.

O vendedor ainda ficou com a mão estendida, segurava o pirulito, quanto a compradora evadiu-se do local, virou a esquina e sumiu. Por muito tempo não quis saber daquele tipo de doce. Mas a lembrança ficou guardadinha na memória. O rapaz se era violento não sei, mas o leitor sabe como é fama, depois que pega fica difícil de tirar. 
AMORES DE INFÂNCIA
(Isabel Cristina Pereira Lopes)

Ela amou aos nove, aos doze,  aos quinze, aos vinte anos 
e daí por toda vida...
Como tomou consciência do amor não há como sabê-lo; 
isso parece nascer dentro da gente como o próprio coração, 
vai tomando forma, crescendo até que um dia pulsa.

Ela amou o caixeiro viajante, o vizinho, o amigo do vizinho, o colega de escola e saiu pela vida a fora amando. 
Nenhum amor de infância foi concretizado, 
nem um beijo, nem um abraço, nem um bilhete. 
Meninas naquela época se contentavam com a simples presença do amado, com a ideia romântica de serem princesas na vida de alguém. 
Meu Deus, como era bonito amar naquele tempo.
A MODA DA ÉPOCA
(Isabel Cristina Pereira Lopes)


Tenho vagas lembranças da moda dos meus tempos de criança, não sei classificar estilo, mas lembro de algumas peças que até hoje povoam minhas melhores lembranças.
Ainda menina lembro-me dos vestidinhos de barrado, enfeitados por cavalinhos e carrocinhas. Era um luxo ter vestido com aplique, o que hoje chamam de pacth colagem.
Houve um tempo dos shorts com as listrinhas adidas do lado, todo mundo que teve a infância entre as décadas de 70 e 80 teve um. Ah, bonito mesmo era os colantes, uma espécie de maiô usado para sair à rua. Usar Melissinha era um charme, sandálias de plástico já tiveram seu apogeu na década de 80. E pensar que ainda menina, em meados de 78 meu sonho era ter uma meia com uns pompons pendurados dos lados! Esquisitices não faltaram, já usei robe de bolinha para ir à igreja. Meu Deus que irreverência, mas o coração era puro.
Mas confesso que meu maior desejo de adolescente foi um tênis de couro do tipo “Montreal” e a calça jeans, que a gente dizia UESTOP, não sei por que. Deve ter sido uma marca.
Eu nunca tive muito, mas na infância tivemos mais um pouco de tranquilidade, nesse tempo minha mãe era sacoleira, e por essa razão  tínhamos sempre umas “coisinhas” da moda: um quinique (tipo de macacãozinho), um conjunto de saia calça (é o que o próprio nome indica, uma mistura dos dois tipos de roupa), uma blusa cacharrel (gola alta), e outras coisitas mais.
Lembro-me que meu gosto pelo belo já se fazia presente, mesmo ainda muito pequena eu rejeitava as coisas que fugiam ao padrão estético do momento e ao meu próprio estilo (se é que posso chamar a mera intuição de estilo). Certa feita uma amiga de minha mãe, dona de comércio em Várzea da Palma, trouxe para minha irmã e para mim uns sapatinhos de plástico, de biquinhos finos e meio arrebitados. Eu que nunca virá ninguém usando aquilo os achei horríveis, calcei-os a contra gosto, voltei para casa usando-os. A certa altura do caminho a raiva contida pela insatisfação de usar obrigada coisa tão feia, explodiu. Comecei a gritar e sacudir os pés atirando os tais sapatos longe:
___ Não vou usar esses sapatos de pateta, não!
Não sei quem disse que aqueles eram sapatos de pateta, mas o certo é que eu sabia ou intuía que gente bacana não usava aquela breguice, aquilo só podia ser coisa de palhaço.

Não sei que fim levaram os sapatos, anos mais tarde tive uns tamancos “barriga de aluguel” com os bicos virados para cima bem parecidos com os tais sapatos de pateta.
A BOA SOGRA
 Isabel Cristina Pereira Lopes


Quando conheci dona Durvalina tive a certeza de que esse encontro mudaria minha vida, pelo menos minha concepção de relacionamentos. Eu já ouvira falar dela, entretanto pensei que todas aqueles absurdos não passavam de folclorices, se é que essa palavra existe. Bem, o certo é que ela existiu, e eu tenho que contá-la aqui. Não sei se conseguirei descrevê-la com fidelidade, mas tentarei.
Dona Durvalina era miúda, lépida, e ativa. Nordestina, não sei bem de onde. Uma coisa é certa dona Durvalina era uma mulherzinha arretada! De todas as suas características marcantes, aquela que mais me chamou atenção foi o ódio que nutria pelo genro. E nesse momento tenho que explicar ao leitor que dona Durvalina dedicava quase que cem por cento do seu tempo a esse genro a quem tanto odiava. Logo cedo ia à casa das vizinhas mais chegadas para contar as travessuras do infame, a quem dava alcunhas de: urubu seco, tripa seca, cara de tatu com fome e tantas outras... Preciso explicar que nunca entendi bem como seria a cara de um tatu com fome, mas o certo é que dona Durvalina imaginava que era uma coisa horrível, ou não usaria para definir o genro.

Faz-se necessário, deixar claro, que nunca percebi nesse genro mal ou bem que pudesse justificar tanta preocupação de uma sogra. Terêncio, era o nome do cabra, também nordestino, não era dado a conversas. Era um homem calado, até um pouco sisudo. Todas as tardes depois do expediente na olaria, era onde trabalhava, Terêncio sentava-se à porta e pitava em longas baforadas um cigarro de palha, cuspia ao chão e ouvia um radinho à pilha, esse era o costume de todo dia. Era um homem limpo, magro, cheirando a Cahimire Bouquet. Mantinha as unhas aparadas, exceto as do dedo mínimo, para coçar o ouvido. Não se via Terêncio em boteco, não se sabia de Terêncio com mulheres, mesmo porque quem haveria de querer um pobre homem duro, que mal tinha o que comer para os seis filhos, frutos do casamento com Aureliana, filha da nossa dona Durvalina. Mas voltando a vaca fria, ou a cabra fria, ou melhor, à dona Durvalina, não obstante aos costumes pacatos e insossos do genro a nossa personagem central, odiava o marido da filha. E disso não fazia segredo, pelo contrário alardeava aos quatro ventos o seu ódio, e o desejo de ver a filha livre do traste, era como às vezes o chamava.
Instigada pelo ódio ao genro, dona Durvalina preparava-lhe arapucas. É isso mesmo, querido leitor, armadilhas! Nossa nordestina era mestra em armadilhas, e em se tratando de Têrencio, ela era artista, quase perfeita, tanto que por muitas vezes quase chegou a complicar o homem, só não o fez, pela inocência latente que vertia daquela pobre alma, que se algum mal tinha, era o de ter escolhido a filha de dona Durvalina para esposa.
Conta-se que numa dessas vezes a sogra tentou incriminá-lo com perigosos facínoras, cavando assim a morte do incauto:

___ Isso! Vi o meu genro entregando o cafuné pra polícia.
Do outro lado da linha estava o X9 da região e o Cafuné de quem dona Durvalina falava, se tratava nada mais, nada menos que o maior traficante da redondeza.
Denúncia feita, não se sabe se pela denúncia ou não, o fato é que Terêncio foi alvo de um atentado. O pacato homem quase passou dessa para melhor, sem ao menos saber quem o caluniara.
Além do tiro, Terêncio passou a ser evitado pela vizinhança que, temendo represália, fugia do coitado como o cão da cruz, se conversava pouco, agora menos ainda.
Passado o vendaval, como o genro não morresse dona Durvalina começou a lamentar o fato do tripa, do traste, do urubu seco, do cara de tatu com fome, ainda estar por ali ocupando lugar.
Também não se sabe se por coincidência ou não, num dia sem quê nem pra quê a olaria pegou fogo.
___ Queimaram todos! Diziam uns.
___ Não, têm uns três sobreviventes. Diziam outros.
Mas a boa sogra não se contentou esperar por notícias foi para porta da olaria como faria uma devotada sogra, não faltou quem comovido pelo ato de dona Durvalina viesse lhe dizer palavras de consolo:
___ Creia dona Durvalina , o Terêncio há de estar vivo. Disse um
__ Vivo? Acho mesmo é que ele está entre as cinzas, trouxe até o vasinho pra recolher o peste.
Outro inocente veio lhe dizer:
___ Era um bom homem, foi pro céu.

___ Só se foi o dá boca da onça, você vivia com o tripa pra saber se ele era bom? Quero é que tenha ido pra parte mais tropical do inferno!
Aqueles que falavam com a sogra do suposto falecido ficavam horrorizados com tanta malvadeza numa hora como essa.

Finalmente saiu a lista dos feridos e mortos, feridos havia muitos, mortos nenhum e ileso alguns, entre eles o Terêncio, qual não foi o ódio de Dona Durvalina:
__ Bem que eu devia ter desconfiado, vaso ruim num quebra! Vamos Aureliana, nem a morte quer esse tripa!

___ Ô mamãe não fale assim não, ele é meu marido.
Dizia a mulher de Terêncio chorosa.
___ E precisa dizer, se ele fosse marido de outra eu num tava nem aí.Você num vê quem é ele porque está cega de macumba, mas eu inda te livro disso.


Dona Durvalina vivia inventando amantes para Terêncio. Mulheres que o infeliz nunca tivera o prazer de beijar nem as mãos. Um dia sei lá quando inventou a história do pente rosa, suposto objeto que comprovaria a traição consumada.
___ Quem mais usaria um pente rosa? Ele? Não claro que é da amasia, e é pente de motel.
__ Mamãe a senhora nunca esteve em motel como vai saber se esse pente é de motel?

__ Nunca estive mas sei das coisa Aureliana, nunca estive na Bahia mas conheço um berimbau.Mas deixa estar vou seguir esse urubu seco e descobrir quem é essa lambisgoia burra que quer uma coisa feia e pobre que não serve nem pra fazê sabão.

E tanto procurou, e tanto revistou que achou um nome  de mulher na carteira do Terêncio e assim que encontrou o telefone e o nome da dita cuja, ligou para a fulana, quem atendeu por certo era o marido da vagabunda, voz de mau, antes fosse mesmo muito mau, pensava dona Durvalina, era dessa vez que tirava o tripa do caminho de Aureliana:

___ Quem é o senhor, o marido?
___ Sim, sou e a senhora?
___ A sogra, quero dizer uma amiga do senhor, sogra do amante de sua mulher.
O homem inrrompeu numa chuva de inpropérios, mas após alguns minutos perguntou:
___ Como a senhora sabe desse caso?
___ O como não vem ao caso, mas o nome dele é Terêncio, anote o endereço, anote, vem armado que ele é perigoso.

O homem era mau e diante da notícia veio armado e preparado para matar, mas dessa vez fez refém não só o Terêncio, mas toda a família, inclusive dona Durvalina:
___ Não tenho nada a ver com isso, por favor seu corn... Quer dizer, seu moço. Solte a mim, os meninos e Aureliana que quem merece morrer é esse traste, pervertido de uma figa.
O homem deixava de saber, para lavar a honra só com muito sangue.
Dessa vez dona Durvalina viu a vô pela greta, temeu pela vida, suplicou para não morrer, mijou-se toda e só ficou livre do marido ofendido porque a mulher do suposto corno, admitiu ter um caso, mas não era com o Terêncio e deu nome e endereço do Ricardão.
Dona Durvalina rezou pra agradecer a vida, chegou a pensar em perdoar o genro, mas arrazou:
___ Eu até perdoaria, mas ele não se arrepende, por isso eu tenho é que continuar tentando livrar minha filha desse tripa, ah um dia eu pego ele no pulo, ah se pego...

Dizem que dona Durvalina morreu odiando o genro, Terêncio separou-se de Aureliana porque descobriu o gosto da vida ao lado de uma mulata bem atrevida, daquelas que dona Durvalina jamais ousaria peitar, e a pobre da Aureliana, parece que amou Terêncio toda a sua existência mesmo a contra gosto da mãe.
                                        A  CONVENCIDA
(Isabael Lopes)


Margarida passara a muito tempo dos cinquenta, todavia alardeava aos quatro cantos que idade era coisa de cabeça. E na sua cabeça, por exemplo, ela teria entre 17 a 20 anos, no máximo. O corpo, podia ressentir-se com a idade, mas ela não dava sinais de cansaço, fazia de tudo um pouco para parecer mais jovem. Quando o mercado lançava um creme novo prometendo milagres lá estava ela como primeira consumidora. Não só os cremes eram consumidos pela nossa personagem, mas também as maquiagens para disfarçar isto ou aquilo, os remédios para fortalecer aqui e acolá e assim seguia a vida em busca da juventude eterna.
Margarida afirmava ser irresistível, e quem dela se aproximasse logo estaria apaixonado, não obstante a essas afirmativas, continuava solteira e em busca de um grande amor.
Certa feita apareceu um pretendente e tudo parecia que mudaria na vida da Margarida:
____Agora sim, ela desencalha. Esse é um bom homem, trabalha, é solteiro e ainda por cima é maduro.
Foi o maduro que pegou. Exatamente isso que desagradou a sessentona.
___Quem gosta de velho é museu. Eu minha filha não quero homem velho de jeito nenhum!
Os amigos foram conferir a idade do pretendente, 40 anos, completos recentemente.
Informaram a Margarida, na certeza de que ela iria gostar da notícia. Qual não foi a surpresa, ela simplesmente deu de ombros e respondeu:
___ Está velho pra mim. Vê lá se uma mulher como eu vou ficar cuidando de homem velho, depois adoece e morre e nem herança tem para deixar. Fico só, vou esperar um mais apropriado pra minha idad...digo cond...digo...Ah sei lá um mais jovem.
Dizem que Margarida continua lá, rejeitando pretendentes, esperando homem jovem, rico, e bonito; porque feio ela já disse:

___Nem pensar meu bem, sou bonita, mereço coisa boa.